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Défice no diagnóstico de casos de glaucoma

 

Progressivo e irreversível, o glaucoma é uma patologia crónica que afecta o nervo óptico e provoca alterações no campo visual que, em última análise, podem levar à perda total de visão.
 

Apesar de não existirem dados concretos sobre a sua prevalência em Portugal, o Plano Nacional de Saúde da Visão 2004--2010 estima que existam 66 mil pessoas com glaucoma, metade das quais sem diagnóstico.

 

Segundo Manuela Carvalho, coordenadora do Grupo Português do Glaucoma da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, "estima-se que 50 por cento dos doentes com glaucoma não estejam diagnosticados", devido à "ausência de hábitos de consultas médicas oftalmológicas de rotina" e ao facto de esta ser uma "doença silenciosa e assintomática até fases muito tardias".

Tendo em conta que a procura de tratamento médico ocorre geralmente quando a doença se encontra num estado avançado, não é de estranhar que o glaucoma tenha um elevado impacto sócio--económico.

"A análise de custos directos do diagnóstico e de tratamento da doença, como exames, consultas, cirurgias, internamento, apontam para valores de 455 a 623 euros por ano por doente nas fases precoces e 969 a 2511 euros nas fases tardias", revela a especialista.

 

 

SOBRECARGA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

O impacto do glaucoma na saúde pública irá aumentar, devido ao "aumento crescente da população idosa no País e ao facto de ser uma doença crónica, que necessita de vigilância para toda a vida", alerta a oftalmologista Manuela Carvalho. A especialista avisa que este panorama poderá conduzir a "uma sobrecarga acrescida dos serviços públicos" e à "inexistência de uma resposta atempada para todos".

 

 

70 MILHÕES DE CASOS NO MUNDO

Estima-se que entre 65 e 70 milhões de pessoas sofram de glaucoma em todo o Mundo. O número de novos casos por ano ascende aos 2,4 milhões.

 

 

MEDICAÇÃO ESSENCIAL

O não cumprimento da prescrição médica ou o cumprimento deficitário da mesma por esquecimento não evita a progressão da doença. 

 

 

DOENTES DEVEM PRATICAR DESPORTO

Os doentes com glaucoma devem praticar desporto, não fumar, não descurar a toma da medicação a tempo e horas e realizar, com frequência, massagens oculares sobre a pálpebra do olho.

 

 

DISCURSO DIRECTO

"RASTREIO EVITA O PIOR", João Pinheiro Dir. clín. Clínica Privada de Oftalmologia

Correio da Manhã – As pessoas que sofrem de glaucoma têm consciência da doença?

João Pinheiro – De forma alguma. O glaucoma, numa fase inicial, atinge apenas o campo visual periférico, pelo que o doente não se apercebe da perda visual e não tem qualquer dificuldade que o alerte para a situação.

– Os rastreios são uma forma de prevenir e de controlar qualquer problema visual?

– Esta é uma doença que, sem tratamento, leva à cegueira por atrofia, com perda total das fibras do nervo óptico. Apenas um diagnóstico precoce, um rastreio, permite evitar o pior.

– Que exames devem ser feitos para que o diagnóstico seja correcto?

– O rastreio deve incluir a medição da tensão ocular, avaliação directa do nervo óptico e do campo visual.

 

 

O MEU CASO: PAULO HENRIQUES

"O OLHO ESQUERDO POUCO OU NADA VÊ"

O que de início era apenas uma dificuldade acrescida em ler as legendas que desfilavam no rodapé do ecrã da televisão, pouco depois passou a ter nome: glaucoma. O diagnóstico, que ainda hoje o acompanha, determinou que, com apenas 28 anos, Paulo Henriques tivesse de começar a aplicar colírios anti-hipertensores e a fazer o tratamento com laser, para tentar travar o avanço da doença. No entanto, foi insuficiente. Paulo foi submetido a duas cirurgias oculares e hoje é acompanhado no Hospital Santo António dos Capuchos, em Lisboa.

"Em média, venho de dois em dois meses ao hospital, para a consulta de oftalmologia, para medir a tensão ocular e fazer exames ao campo visual. O olho esquerdo já pouco ou nada vê. É graças ao olho direito que consigo ler, conduzir, ter uma vida normal", explica Paulo Henriques, empregado de escritório, de 48 anos.

 

 

PERFIL

Paulo Henriques tem 48 anos, é empregado de escritório e reside em Lisboa. Já foi submetido a duas cirurgias e hoje é acompanhado no Hospital de Santo António dos Capuchos.

 

in Correio da Manhã

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